quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tuyo

 

E você, amor, me reaparece
à essa hora? Em atraso. Falso.

O tempo é perdido
as horas gastas
acreditar em quê? Na sua palavra
feita de brisa e dia aberto?

Não me venhas

como um lembrete
num papel amassado
aquela música que eu ouvira
as velas guiando os primeiros passos -

esconde-te!

nas conchas do vento
por trás das orelhas
e dorme. Deixa-me dormir

e sobreviver a sua doce maldição.
Diabólico encanto de salvar.

Dispenso a tortuosa caridade. Desejo é
a carícia. Incorreta e imprecisa.

Se toda pessoa
em si adormece a fera e o fel
faz-me esquecer do ouro e daqueles fios finos

das mãos espalmadas sobre uma casa
feita de devaneios. Eu a quero na areia
no chão de pedra
sobre as tuas folhas velhas.

Nela nossos pés descalços. As flautas.
Espaços para cada exagero meu.

3 comentários:

  1. "Tinha esquecido do perigo que é colocar o seu coração nas mãos do outro e dizer: toma!, faz o que quiser."

    ResponderExcluir
  2. É...mais ou menos isso...qual a referência desse trecho?

    ResponderExcluir
  3. É de Caio Fernando. Não me lembro ao certo do nome do conto mas, se não me engano, também cheguei a lê-lo em um dos livros de pequenos excertos do Abreu. =) O nome é "Fragmentos", e a editora é a L&PM.

    ResponderExcluir