terça-feira, 12 de abril de 2011

Verde

Às vezes
deitado no meu leito
sou uma cidade
e suas árvores.

Minha respiração
que ofega
é o ir e vir
do sangue verde

ele é rio
para os deuses
que dançam sobre mim.

Cada folha
uma parte de um quebra-cabeças.

No tronco,
um mosaico
onde comem e dormem
vermes e passarinhos.

Respiro
e as estradas
viadutos se erguem
para atravessarem (travessos)
carros e crianças.

Virar para o lado
e beijar
suas pálpebras

me fará
desmanchar em água nova

e toda a vida
começará
oceano oceano oceano.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Língua

Na recuperação dessa forma
tive de passar
inevitável e irremediavelmente
por você
suas pedras e penas.

O círculo se fecha.
Estou a terminar
a leitura do livro.

E me desfazer de ti
é a desaprendizagem de uma língua inquieta.

Sou alguém anterior à palavra. E, em breve,
me restarão pobres e rudimentares
grunhidos, ruídos.

Me deixar te esquecer
será desligar as canções das cenas cotidianas
as mãos dos teus gestos de carinho frio
colocar flores para o enfeite das horas mais tristes.

Em contagem regressiva,
o desbotar do primeiro encontro no parque
aquele seu abraço sem jeito e mal-educado
toda a imperfeição que aprendi a amar.

Oco de som e sentido, então,
saio nas ruas já de manhã
para soletrar letra e sílaba
de um pássaro branco.

Canto na aurora
como um animal que
aprende o amor pela primeira vez.