quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Exercícios (lastro)

Exercitar ser
uma folha em branco
(sem passado ou amores)

reconhecer os vestígios
vestidos no passado:
seus uniformes.

Os laços e os lastros.
Olhar as escápulas.

Sem se excitar
demasiado

por saber
que dentro

residem essa carne
e as peles
repartidas

em várias
subcamadas de
escamas tempo
e sangue.

Ignorar e reconhecer
a vida restante e seu pó
para poder se deixar levar com o vento.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Oração à chuva

Hoje, antes
de ir de casa

deixei as janelas
         bem abertas;

talvez chova

              muito
(me avisam os pássaros)

e
os lençóis enxáguem a cama
a chuva encharque o muro
minha pequena santa verde
                     pareça chorar.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cerimônia

O amor é uma
dessas cerimônias
que nos devolve a infância.

A gente olha
pra pessoa que quer perto
e, de repente, as roupas encolhem

esse menino de 10, 11 anos
perdido no meio de uma camisa social de adulto.

Não pensar em outra coisa.
Nem querer perder teu nome da boca.

Esperar e ficar triste
pelo abandono
pela ausência

por ter sido esquecido pelos pais
na escola pequena.

Me zangar
como se seus braços fossem os primeiros
o beijo inaugurasse um momento novo

e os nossos pés juntos
(um sem saber como procurar o outro)
fossem um rito de perder idades.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A paixão é um trapézio

 


Eu
me movimento
na direção (contrária)
para lá
pegar pulso
e impulso

respirar fundo
porque a paixão é um trapézio
com
                                     você
                                     do outro lado.

- Vem?
- Não.

Vou? Entre nós, a lona
e o chão infértil de uma realidade sem amor, nem poesia.
Um passado que insisto em pisar para trás com seus círculos de fogo.

Como num show de variedade,
controlo e articulo os músculos de uma face máscara:
trapezista ou palhaço? Que papel me dá?



Sobre o picadeiro,


cada um a seu lado?
a queda?
eu de mãos dadas com você?