sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Notas sobre uma solitude



Namorar-se
na guerra (terra, tiros)
em meio a idiotas
luto
e o brilho fútil de tudo.

Um namoro de si
verdadeiro e obtuso
contra usos alheios
ilusões, ou devaneios.

Namorar-se
entre palmeiras
e praias as paisagens
imaginadas
o sonho espesso
da lágrima.

Esse cortejo
vai e vem
de gente móvel
que a nada se fixa

a não ser às
pequenas placas
de concreto
uma a uma

fazendo um mundo seguro
de invenção
e plástico.

Namorar-se
como um bebê
descobrindo
com a boca
os próprios pés.

O pai
e a mãe indo embora,
distanciando, proponho:

essa nossa gente namorar-se
por apenas ser só
entre uma cadeira e outra
cadeia ou gaiola cardumes
deitados sobre asas enormes
na multidão. No estuque.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Anéis, colares



Ouço o cheiro apimentado da chuva.
Sobre o dorso, um colar de fracassos.

Dentes penas pele escamas
de um passado gravado
e atravessado por um cordão
no pescoço.

A tal ponto e calamidade chegou
esse nosso distanciamento,
meu e da lince.

Mas outro dia
deitei-me

conchas e caramujos
me cobriram a nuca

para amiúde
se irem trocando
alguns restos animais

por pérola e pétala
branca.

Esses anéis que eu
para sempre uso nos dedos
pro modo de lembrar
essa libertina aliança

com a natureza
e sua sombra.

Com a tristeza
e sua luz.