segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Texto seco sobre silêncio e mar

Num texto seco,
escrevo
sobre como não há silêncio absoluto e um mar.

Quero toda minha obra pobre sobre essas marcas de pó.

A falta de som
amontoa pequenos significados juntos
como na pequena gota de sangue
a carregar todo o registro
do que somos éramos seríamos seremos. Sérios rios e serenos.
Não usar o presente como fotografia. Tampouco usá-las para viver de modelos

As pessoas não conversam
depois das chuvas
os automóveis carregando
um chacoalhado ao lado do outro
no modo da mãe com seus bebês

os televisores falam sozinhos
para casais na sala escura
seus filhos adormecidos

ou com homens sozinhos
sentados no terreno grande

lavrando a chuva de espera
sem desejar que muda ela seja
a árvore e a hora certeira.

Os momentos e poemas sem sal
apenas os são, mais nada. Eu leio as ondas
para saber que não consigo escrevê-las.

E os seus movimentos ritmados
nunca se repetirão no chão das minhas rimas meninas, coração.

Olhar-nos nus é o mesmo que estar
diante das águas. Onde levam

aquela folha que você via correr na calçada
quando os mais velhos a lavavam?

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