A rua pela noite
é meu instrumento musical preferido.
E os carros
passando devagar
são ondas mansas, as vagas
de uma cidade que se apaga,
mas não toda e inteira:
as famílias voltam da serra para suas casas
e os faróis são pequenas pérolas
de um colar delicado. Cuidado.
Os automóveis assim soam
por não haver aqui sinos
e porque todo lugar é água,
mar e um punhado de gente.
Aquele bloco irritado
a planejar arquitetar ludibriar
com vinganças e amar planos
de quem não se vê mergulhado também
em profunda infelicidade, mas eu vejo.
Não assino em direção alguma, apenas aceno.
E é por isso
que passo a pássaros
de pés
como pisando em grandes teclas
ou a soprar paletas
(vão e voltam)
nesses sons de sono noturnos, sozinho.
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