quinta-feira, 10 de maio de 2012

A idade de amar

Para Sabrina Mostafe






Sabrina, nós somos
mendigos.

Na linha do horizonte,
as portas
daquele filme antigo
invertidas deitadas abertas
fecho-as para te dizer
que os passistas e as
vedetes

vão deixando beijos pequenos
em nossos chapéus.

Mas, amiga,
como as fechamos?
Ou foi o vento?
Algum evento amoroso
de carne, mal-sucedido.

Saio pedindo
por aí
enquanto ficas intacta.
Nas sombras, os dois.

É que eu acho
e acredito nesse
meio tempo arvoredo
entre o carro que passa
e a pedra que fica.

Vários planetas
altos astros
sobre esse ato singular
derramam-se sobre
os nossos ombros cansados.

Apesar do que nos amarga ao passado,
é chegada, irmã,
a idade de amar.

Foto: Dia 949, por amy hildebrand, do blog da autora: <http://withlittlesound.blogspot.co.uk/2012/04/day-949.htm> Acessado em 11 de maio de 2011.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

O trem das cerejas




O trem das cerejas
é um estado imaginário
e permanente.

Sem que se espere,
em meio a devaneios de afeto
eis que surge esse móvel

feito de vermelho
ameixas romãs morangos.

Uma pessoa delicada
se acaso tivesse os pulsos feridos
ou sofresse os infortúnios
do entregar-se nele
deixaria, certamente, jorrar não sangue
mas o sumo vermelho das frutas.

E é com esse suco
doce cítrico em fascículos amargos
que me embebedo e desloco pelas ruas.

Cada rua esconde
em seu recheio
uma camada de sangue

porque a metrópole
e sua superfície
é a pele viva
de um grande gigante.

Anda-se e o Deus
tem cócegas
nos encontros improváveis
que não deveriam acontecer
(mas seguem sua natureza de rio
e fluem).

Só pode dizer-se humano
quem sobreviver
a essa pequena morte.