sábado, 13 de agosto de 2011

Canção


Há uma placa

na porta
com o dizer
“Hoje não cantaremos”

mas
haverá hora
de a canção chegar
tão branda
lume d’água

que, ao invés de passos grossos
no assoalho

como crianças com meias, deslize,
nós escorregaremos um ao outro.

Poema de regeneração

Após flechas,
essa parte dos poros
se fechará. Está fechada.



Com isso,
sei não haver espaço
para vermes no miolo.

Não mando em justiça
da mesma maneira que frutas
incontém tempestades e vento.
Ninguém manda nos ventos. Nas pedreiras.
Justa é a pérola na concha.

O orvalho soa simples, noturno (fechou-se)
e noto-me: esses relógios gordos
regeneram e protegem.

Canja



Comer é sagrado.

Se cozinho
minha canja

as ferramentas de cozinhar, todas,
muito respeito têm pelo bicho
que vai ser alimento:

por ser mais fácil andar numa rua refogada,
a faca vai macia, maciinha;
pouca água é necessária pro canto da pressão.

Então, a galinha, faceira, não sofre -
ela meio vai mergulhando n’água
e nós nos divertimos muito

porque o que bicho e gente precisa
é dessas coisas nutritivas,
como o azeite de dendê
e o dengo.

A panela assobia,
meu galinho pia
e os três, dançando, nos arreparamos:

quando a gente aprende a fazer canja,
é porque cresceu?

Guardadas na caixa

Venho aqui para dizer que costumo, geralmente, dividir meus poemas em blocos, grupos.

Acabo de fazer uma grande mudança e acabei encontrando, numa máquina antiga, alguns poemas do passado. Não nasci com a poesia. Na verdade, descobri os poemas como fala há uns 10, 12 anos atrás.

Os poemas que aparecerem aqui com a tag #guardadasnacaixa são, na verdade, instantâneos de tempos passados com os quais ou eu não me identifico mais, ou ainda ressoam. Podem também ser uma espécie de registro da minha própria história com as palavras.