Não me lembro
se já escrevi sobre isto antes.
A garrafa que guarda
suco de uva e vinho
quando esvazia
deixa restos
riscando o vidro.
Pode-se chacoalhá-la
e ter algum som
ou
ver os desenhos
que se formam
nas paredes
desse continente cristalino.
Com a memória
não há diferença.
De um caminho para outro
nos movemos
conteúdos
formando imagens do que restou
frutas bebidas pequenos festins
tudo desaguando
em rios e aquários de rubra peça.
Pesca-se o restante montando cabeças em
troncos
e pernas invertidas, um brinquedo infantil.
Se queres entrar, peça-me passagem.
Lembrar não é recordar
mas, aos poucos, por cheiro gosto
e ódio
ir recompondo esses quebra-cabeças
das crianças avessas
que fomos eu e tu
os trabalhos perdidos
a esperança.
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