segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Casa de vento

Quando era mais novo,
ouvia uma canção
que falava sobre casas 
feitas de farinha

Ouvi dizer
sobre meu coração
em um mapa
falar sobre ele ser uma
página em branco

Foi-se o tempo
em que foi preciso
pautar
a minha crença
e os meus amores
nos olhos dos outros
nas palavras das pessoas



me interessa
e toca hoje
simplesmente viver
com a minha namorada
na morada do tempo.

dançar cantar desenhar
minhas vidas, os joões que sou
sem possuir, nem ser posse
sem falsas poses

gostando e sendo gostado
e nisso criando
uma família 
e os alicerces de uma casa 

na qual seres da terra e das águas
peixes e passarinhos
e pessoas de vento e ar
possam morar. Em paz.

*

Foto de Fábio Veloso sobre o espetáculo Casa de Farinha.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Não se pode assaltar um espírito livre



Não se pode
roubar assaltar ou mutilar
um espírito livre.

Se lhe roubam
dedos (ou aneis)
vai o tempo
e os repõe.



Quando o assaltam nas ruas

as verdades o passado
o genuíno cuidado
os amores e o carinho
a história

como planta vigorosa
tudo refloresce teimosamente
em seu corpo ferido,
entre nuvens. A despeito do seu desejo, eu sinto.

Ao sorrirem para eles
nos transportes públicos
as crianças
não é a carne o que se vê:

um menino somente
consegue enxergar outros meninos
nos olhos cristalinos
e suas formas divinas.

Porque todos os homens
que se aproximam
da beleza e da verdade
(e por elas lutam, os imprescindíveis)
carregam seus deuses
em suas cabeças e os olhos agudos.

Sobre essa flor
de pétalas dentadas
e ervas verde-amareladas
eu olho para os meus amigos...
e as pessoas que amei:
como mudamos todos, não?

Que enorme distância
entre o que dizíamos acreditar falar
e o que foi feito das nossas vidas, né?

Mas não se irritem.
Em um bom café
forte doce
e uma conversa
tudo ficará branco
e claro. Bastará misturar
com os fatos e o tempo.

Dez anos passados
para a descoberta da nossa
verdadeira vocação:

amarmos
e sermos amados.
Sem excessos.

domingo, 13 de janeiro de 2013

O retorno de saturno

Quando, aos 28, 29 ele vem
para tomar um café 
em sua casa, 
não há muito o que se fazer.

Deve-se preparar 
a melhor roupa
uma boa comida
e partir simplesmente limpo.

Não se joga xadrez com o senhor,
nem se pode esconder.

Nada deve ocupar o pensamento
e os rios seguem seu curso.

Nós somos o rio
e as formigas a desviar
que se banham, ou bebem suas águas,
algas os vermes  e a formiga.

Se um homem faz uma roda,
ela o revela. A beleza do giro
e a feiura da madeira ele
nós somos o rio.

Deite, então, teus pés
sob essas águas
junto a mim. E o amor seja
uma coroa feita toda
de espinhos patas desses insetos
e asas de borboleta.

Como dois bichos,
nós somos o rio.