quinta-feira, 24 de março de 2011

Peito de pano

Na parte de cima
da casa
que escolhi pra morar,

quando a costureira
derruba um botão
o ouço
como se estivesse lá. Caísse em mim.

Nas abas
da memória turva
quando chega a rosa rainha

e a vejo dançando
em volta de mim
não há divisão no tempo
estamos lá
conversando

sobre as rodas
o que virá:

- Você vai se surpreender.
Era verdade. Eu me surpreendi.

Sou a camisa desabotoada
desbotada e amarela

marcada pelo
tecido daquela saia
por aquele abraço grande

aquela montanha
acolhendo a gente. Grande. Leve, aberto.

Precisa haver justiça
na morte dos nossos mestres, sentido.

Percebo-me feito
desses retalhos
cada
fio foi
amarrando torto fazendo tosco
esse peito de pano.

4 comentários:

  1. Como esse poema mexe comigo, nossa!!!

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  2. Leio, leio, re-leio e não me canso de ler esse poema.....

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  3. Muito bonito esse poema, João! Há tempos não nos falamos... saudades! =)

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  4. Oi, Isabel! =) Bom te ver por aqui. Obrigado! Um abraço! Saudades também.

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