terça-feira, 8 de março de 2011

Por que você não consegue ler esse livro?

Você não consegue lê-lo
e o leva junto das roupas
numa viagem de carnaval
porque percebe isso,
que já viu antes:
uma vareta de indiano incenso
queimou seu perfume sobre todas as coisas.

Esses riscos de ar
desenham uma casa
formada de aparências, miragem
cuja residência
seus dedos declinaram.

Trata-se da primeira vez
a passar pelas plantações
devastadas por um março líquido
em que julgas viajar sozinho, mas
lá está o fantasma a impregnar tudo.

As personagens do livro
trocam cartas
e entre uma página e outra
sussurram sobre os absurdos
desse triste destino:

- Veja os olhos. Não são mais os mesmos.
- Cadê aquele brilho?

Enquanto os de sua idade
permanecem num estado estranho
misto de sono e vigília
pelas vozes de suas séries,
o médico gostando de assassinatos
os amigos que dividem, felizes, uma casa
as famílias de mulheres perspicazes,
toda uma cultura seriada e instantânea, alheia a sua,

eu me vejo parado. Exercitando perdoar o passado
exorcizar os demônios de estimação que deixou
e escutando os rastros de som seus que se espalharam
pelos espelhos e páginas da minha pele e livros.
Agora, chega. É hora de ler toda a história até o fim.

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